quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Obras de arte que tem me fascinado esses dias..




pertence à Henri de Toulouse Lautrec e se intitula "na cama".


pertence à Henri de Toulouse Lautrec e se intitula "na cama".



Retrato da Madame X de Sargent.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O que é o amor segundo a filosofia?














Martha Nussbaum

Universidade de Chicago

Entende-se habitualmente que o amor é uma poderosa emoção que implica uma intensa ligação a um objecto e uma grande valorização desse objecto. Em algumas acepções, contudo, o amor não implica, de todo, emoção, mas somente um interesse activo no bem-estar do objecto. Noutras situações o amor é essencialmente uma relação que implica permutação e reciprocidade, mais propriamente que uma emoção. Além disso, há muitas variedades de amor, incluindo o amor erótico-romântico, o amor da amizade e o amor filantrópico. Culturas diferentes também admitem diferentes tipos de amor. O amor tem, igualmente, uma arqueologia complicada: porque tem fortes conexões com experiências de afecto precoces, pode existir na personalidade a diferentes níveis de profundidade e nitidez, apresentando problemas específicos para o autoconhecimento. É um erro tentar fazer uma descrição excessivamente uniformizada de um tão complexo conjunto de fenómenos.

O amor tem sido entendido por muitos filósofos como fonte de grande riqueza e energia na vida humana. Mas mesmo aqueles que exaltam a sua contribuição têm-no visto como uma potencial ameaça à vida virtuosa. Por esta razão, os filósofos na tradição ocidental têm-se preocupado em apresentar descrições da reforma ou "elevação" do amor, com vista a demonstrar que há formas de conservar a energia e a beleza desta paixão, ao mesmo tempo que se eliminam as suas más consequências.

1. Amor: emoção, relação, acção

Entende-se frequentemente que o amor é uma emoção poderosa. Parece implicar quer uma intensa ligação a um objecto quer uma elevada valorização do objecto. Muitas vezes, embora nem sempre, o objecto é visto como algo de que alguém necessita na sua própria vida; por esta razão, o amor é muitas vezes relacionado com projectos de posse ou incorporação, e com emoções ciumentas para com o objecto visto como independente e capaz de frustrar as necessidades do amante. Espinosa (1677) sustentou que o amor implica ter consciência do objecto enquanto algo que suscita o próprio bem-estar de alguém. Visto que todos os objectos particulares são, também, em virtude da sua separação do eu, capazes de frustrar o bem-estar, todo o amor, concluiu Espinosa, é essencialmente ambivalente, misturado com raiva e mesmo ódio. Pode-se, contudo, defender que o amor é uma emoção ou emoções, enquanto se insiste que estas emoções podem ser isentas de ciúme e desejo possessivo. Assim, Platão, no Fedro, concebe o amor como uma poderosa reacção à beleza e ao mérito, que está estreitamente ligada, nas pessoas virtuosas, à veneração e ao temor; deste modo, respeita a separação do objecto e procura o seu bem. Estas considerações descrevem diferentes experiências, podendo ambas ser reais (como Platão, ao contrário de Espinosa, reconheceu).

O amor não é apenas uma emoção: pode também ser um tipo de relação. Aristóteles, na Ética a Nicómaco, insistiu que o amor (da amizade) implica sempre conhecimento mútuo e benevolência recíproca. Embora qualquer descrição do amor necessite de abrir caminho para amores que não são correspondidos, ou que são dirigidos para objectos que não podem retribuir (como bebés ou alguns animais) ou que não podem fazê-lo tão claramente (como Deus), a insistência de Aristóteles na interacção e na reciprocidade fornece um ingrediente importante para uma descrição normativa de muitos tipos de amor humano, quer da amizade quer romântico-erótico. Com efeito, a recusa em conceber o amor em termos relacionais é uma deficiência central em muitos casos de amor erótico, nos quais o objecto amado é, de facto, tratado como um objecto a ser possuído e imobilizado. Embora Proust pensasse que tais desígnios eram essenciais ao amor erótico, pode-se duvidar disto.

Alguns amores podem não envolver, de modo algum, uma emoção forte. Kant (1797) insistiu que o "amor patológico" (amor que envolve uma emoção passiva) era inferior ao "amor prático", uma ligação activa ao bem dos outros, incluindo emoções de respeito e preocupação. Quer concordemos quer não, devíamos reconhecer que este comprometimento prático activo é um tipo de amor: o amor filantrópico, por exemplo, pode ser melhor entendido desta forma. Os estóicos gregos acreditavam que mesmo o amor erótico podia ser repensado de uma forma que o tornasse compatível com aapatheia, impassibilidade, própria dos doutos. Seria um entusiasmo activo acerca do bem-estar do objecto, sem as correntes da passividade angustiante que habitualmente caracteriza a ligação erótica.

2. Tipos de amor

O inglês, como o latim, tem apenas um único vocábulo para uma extensa família de experiências diferentes. Outras línguas, como o grego antigo e o japonês moderno, tornam as diferenças inequívocas desde o início através do uso de vocábulos diferentes. Mas, mesmo em inglês e latim, podemos distinguir diferentes espécies de amor. O amor erótico-romântico está estreitamente ligado ao desejo sexual, enquanto o amor da amizade aparentemente não está. Considera-se frequentemente na era moderna que o amor dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais tem uma dimensão erótica; mas esta não era a perspectiva da maioria das culturas mais primitivas, nem é verosímil ser verdadeira em culturas onde os pais em boa situação financeira raramente viam os seus filhos. A cultura grega antiga considerou que o eros era sexual, preocupado com a posse e potencialmente destrutivo; a philia, que podia prevalecer quer entre amigos quer entre parentes, era vista como mútua e recíproca, preocupada com o bem-estar, e uma força cultural positiva. A agape cristã é distinta de ambos estes amores pelo seu carácter essencialmente altruísta; o seu paradigma é a dádiva que Cristo fez da sua vida para a redenção da humanidade pecadora.

Podemos também classificar os amores pelo seu tipo de objecto. Nós amamos outras pessoas, e é razoável esperar que estes amores envolverão alguma reciprocidade e mutualidade. Os amores das pessoas pelos animais podem ser muito intensos; variam muito no tipo de reciprocidade que oferecem. As pessoas também amam intensamente objectos inanimados, como obras de arte e beleza natural. Tais amores não podem ser recíprocos. O amor também pode ter como objecto uma abstracção moral, como a justiça social ou o bem da humanidade. No modelo estóico-kantiano este tipo de amor é especialmente bem explicado, como algo que envolve um comprometimento activo mais do que uma emoção.

O amor de Deus ou dos deuses tem sido entendido de muitas formas diferentes. Os estóicos pensavam que amar Deus era amar o propósito racional que dá vida ao universo; tal amor era melhor entendido como uma forma de pensamento activo, sem qualquer receptividade emocional. O amor intellectualis dei, de Espinosa, segue este paradigma. Santo Agostinho, criticando a apatheia estóica, insistiu que uma forma de amor fortemente emocional, misturado com temor, culpa e dor, é mais apropriado a uma vida cristã. Muitos pensadores cristãos seguem a sua influência. As concepções judaicas do amor de Deus tendem a dar ênfase à acção correcta, quer ritual quer ética. O moderno pensamento religioso continua estes debates.

3. Diferença cultural

A maioria das sociedades abrange tipos e concepções de amor muito diferentes. Mas as diferenças multiculturais também complicam a análise. As sociedades diferem a) no comportamento que consideram adequado numa relação de amor; assim, os amantes americanos modernos comportam-se publicamente de formas que teriam sido inconcebíveis na Índia do séc. XIX. A diferença também está presente b) nas regras que as sociedades ensinam a respeito dos objectos de amor adequados; assim, a Atenas do séc. V a. C. ensinava aos homens jovens que se esperava que eles tivessem fortes desejos eróticos quer por homens quer por mulheres; muitas culturas modernas não transmitem esta ideia. As sociedades também diferem c) nas suas avaliações normativas das diferentes espécies do amor em si - discordando, por exemplo, sobre se o amor erótico é nobre ou indecoroso, bom ou mau. Pode-se esperar que todas estas diferenças moldem não somente os conceitos mas também a própria experiência do amor.

De uma forma mais interessante, as sociedades também diferem d) na taxinomia exacta dos tipos de amor que a sua linguagem e forma de vida exibem e perpetuam. Por exemplo, o grego antigo eros é imaginado como um terrível poder que domina a personalidade e faz que ela se fixe num objecto com uma intensidade irresistível. O seu objectivo é supostamente a posse do objecto. O amor palaciano medieval, em contraste, põe a ênfase na pureza ideal e afastamento do seu objecto e associa o amor a uma terna e cortês atenção para com esse objecto. Aqueles que, hoje em dia, perderam as crenças e as formas de vida que fundamentaram o amor palaciano não podem ter experiência daquela paixão exactamente.

As diferenças na taxinomia são muitas vezes descobertas e depois modeladas pela terminologia. Assim, o facto de os gregos antigos distinguirem o eros da philia e os romanos usarem apenas o vocábulo amor provavelmente moldou o pensamento e a experiência pelo menos até determinado ponto, embora os romanos distinguissem claramente diferentes variedades de amor (analogamente no mundo moderno, o facto de o japonês ter várias palavras distintas para aquilo que o inglês chama "amor" provavelmente revela alguma diferença real na experiência, ainda que estas diferenças não devam ser sobrestimadas). No mundo moderno, o entendimento da diferença cultural é dificultado pelo contacto intercultural e pela tradução de textos formativos: assim, o facto de o japonês ai ser usado para traduzir o bíblicoagape exprime, sem dúvida, a evolução daquele conceito enquanto aplicado à experiência.

4. Amor e desenvolvimento humano

As pessoas começam a ter emoções fortes antes de poderem mover-se ou falar. A combinação da maturidade cognitiva com o desamparo físico de um bebé humano dá origem a uma complexa e ambivalente vida emocional, à medida que vê que muitos objectos de que necessita para conforto e sobrevivência são também distintos e insubmissos. A perspicaz conjectura de Espinosa acerca da relação entre amor e cólera tem, presentemente, recebido muitas vezes confirmação clínica e experimental. Uma tarefa do desenvolvimento humano é gerir e até mesmo superar esta ambivalência, a qual existirá em muitas formas diferentes em diferentes vidas, à medida que o amor é poderosamente moldado pela identidade individual dos objectos de afecto precoces.

As experiências precoces que moldam o padrão dos amores de uma pessoa são imperfeitamente recordadas, se o são de todo; mesmo traduzi-las para palavras é modificá-las. E, não obstante, parece provável que elas ensombram as experiências mais tardias de uma pessoa. Proust alvitrou de forma plausível que quando um adulto abraça um amante, ele ou ela estão, ao mesmo tempo, a abraçar a sombra de um objecto mais primitivo. Deste modo, Albertine é também a mãe cujo beijo de boa noite o rapazinho tão ansiosamente esperou. E, contudo, é difícil compreender estas facetas de si mesmo; e na medida em que se consegue fazê-lo, altera o passado tornando-o preciso e articulado. Portanto, é provável que o autoconhecimento das pessoas no amor seja muito imperfeito.

5. Amor e bem humano: a elevação do amor

O amor é geralmente reconhecido como uma fonte de beleza e apreço na vida. Por esta razão, nenhum filósofo propôs a sua completa remoção. Mas considera-se também que acarreta várias dificuldades para a pessoa que aspira a uma vida recta e virtuosa. Uma preocupação é que o amor implica parcialidade: concentrando-se intensamente no apreço de um único objecto, a pessoa perde de vista as afirmações legítimas de outros objectos e metas. A segunda preocupação é com a excessiva indigência: permitindo a um único objecto tornar-se central para a sua vida, os amantes colocam-se a si próprios à mercê de acontecimentos que não podem controlar, sacrificando, deste modo, a sua dignidade e poder. Finalmente, em parte por causa desta passividade, o amor está muitas vezes ligado à raiva e vingança, quer contra o objecto amado quer contra um rival, ou ambos. Uma sociedade que quer reduzir a raiva e a violência pode ter, portanto, razões para desencorajar o amor.

Os filósofos na tradição ocidental têm, por conseguinte, estado preocupados com o projecto de construir uma reforma ou "elevação" do amor que nos permitiria conservar o seu mistério e beleza embora depurando os seus excessos deformadores. Para Diotima, no Banquete de Platão, a elevação implica centralmente a ideia de um objecto abstracto. Desde que alguém perceba que o objecto real do seu amor não é um corpo nem mesmo uma pessoa completa, mas a beleza que está alojada naquele corpo ou pessoa, então esse alguém pode começar um processo de reforma, comparado à subida de uma escada, através do qual, afinal, chega a amar toda a beleza no universo e, mais do que isso, a contemplar a forma imortal da própria beleza em toda a sua harmonia. Desta forma, os amantes tornam-se invulneráveis às vicissitudes da vida: o objecto do seu amor nunca os trairá ou desapontará.

Os proponentes cristãos da "escada" do amor tendem a criticar o plano de Platão pelo seu objectivo de auto-suficiência pessoal. A modéstia genuína exige que se mantenha uma constante consciência da própria imperfeição e miséria. Os autores cristãos também se esforçam por manter o amor de indivíduos específicos como parte do amor purificado.

Espinosa regressou à proposta platónica para a reforma contemplativa do amor: concentrando-se na independência da mente de contingências externas, em última instância uma pessoa vem a amar a estrutura determinista do universo inteiro e a mente é libertada da passividade e ambivalência que caracterizam os afectos humanos.

Uma notável interpretação moderna da tradição platónica pode ser encontrada em À la Recherche du Temps Perdu (À Procura do Tempo Perdido) (1914-27), de Proust, que afirma que cada um dos amores de um escritor é como um degrau numa escada que o conduz a formas superiores, nas quais, sozinho, o seu intelecto encontra conforto e deleite. Usando o próprio passado de dor e vulnerabilidade como matéria-prima para um trabalho criativo, supera-se a vulnerabilidade e alcança-se uma espécie de independência do tempo e da morte.

Nenhum destes reformadores gosta muito dos seres humanos reais. Por essa razão, esta tradição dá origem a uma contratradição que tenta restituir aos seres humanos uma grande aceitação dos seus amores como eles são, vendo o próprio interesse na elevação como uma doença que necessita de cura. Muita desta tradição subsiste fora da filosofia. Um exemplo extraordinário é o Ulisses (1922), de Joyce, que divertidamente vira de pernas para o ar a escada de Diotima, sugerindo que é somente na emoção inconstante e imperfeita que o amor verdadeiro pode ser encontrado. Ao conectar o idealismo religioso ao anti-semitismo e o amor pelo corpo, de Bloom, a um amor filantrópico geral, Joyce sugere, também, que a tradição de elevação pode ser a causa dos ódios sociais, em vez de a sua cura.

Martha Nussbaum

Referências e leitura adicional

· Aristóteles (cerca de meados do século 4.º a.C.) Nicomachean Ethics, tradução com anotações de T. Irwin, Indianapolis, IN: Hackett Publishing Company, 1985, livros VIII, IX. (Sobre o amor da amizade.)

· Agostinho (397-401) Confessionum libri tredecim (Confessions), tradução de F.J. Sheed, Indianapolis, IN: Hackett Publishing Company, 1993. (Sustenta que o amor altamente emotivo é mais apropriado a uma vida cristã.)

· Agostinho (413-27) De civitate Dei (The City of God), tradução de P. Levine, Loeb Classical Library, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1966. (Debate os sentimentos adequados a uma vida cristã.)

· Bowlby, J. (1982) Attachment and Loss, Nova Iorque: Basic Books, 3 volumes, 2.ª edição. (Importante estudo psicológico do desenvolvimento do amor nas crianças.)

· Cavell, S. (1969) "The Avoidance of Love: a Reading of King Lear", em Must We Mean What We Say?, Cambridge: Cambridge University Press; re-imp. 1976. (Influente discussão dos motivos das pessoas para evitar o amor.)

· Dante (1313-21) Divina Commedia, tradução de. J. Ciardi, The Divine Comedy, Nova Iorque: E.P. Dutton, 3 volumes, 1989. (O mais influente relato cristão medieval do amor, combinando perspectives teóricas com aspectos extraídos da tradição do amor palaciano.)

· Espinosa, B. (1677) Ethica Ordine Geometrico Demonstrata (Ethics Demonstrated in a Geometrical Manner), tradução de E. Curley, Ethics, Harmondsworth: Penguin, 1996. (Analisa o carácter ambivalente do sentimento humano e propõe um processo pelo qual podemos ser libertados da escravidão, em favor do amor intelectual de Deus.)

· Hume, D. (1739/40) A Treatise of Human Nature, ed. L.A. Selby-Bigge, revista por P.H. Nidditch, Oxford: Clarendon Press, 2.ª edição, 1978. (Importantes discussões do amor e do ódio.)

· Joyce, J. (1922) Ulysses, Nova Iorque: Modern Library, 1961. (Sugere que o amor real se encontra apenas na emoção imperfeita da vida diária.)

· Kant, I. (1797) Metaphysische Anfangsgründe der Tugendlehre, tradução de. J.W. Ellington, Metaphysical Principles of Virtue, Indianapolis, IN: Hackett Publishing Company, 1964. (Discussão da relação entre o amor enquanto paixão e o amor como um comprometimento activo.)

· Klein, M. (1921-45) Love, Guilt, and Reparation and Other Works, 1921-45, Londres: Tavistock, 1985. (Importante tratamento psicanalítico do amor, ciúme e culpa.)

· Murdoch, I. (1993) Metaphysics as a Guide to Morals, Nova Iorque: Allen Lane, The Penguin Press. (A romancista filósofa debate a relação entre o amor e uma visão do bem.)

· Nussbaum, M. (1995) "Eros and the Wise: The Stoic Response to a Cultural Dilemma", Oxford Studies in Ancient Philosophy 13: 231-67. (Debate o projecto estóico de haver amor erótico sem carência e vulnerabilidade.)

· Platão (c. 386-380 a.C.) Symposium, tradução de A. Nehamas e P. Woodruff, Indianapolis, IN: Hackett Publishing Company, 1989. (Propõe a elevação do amor à contemplação da beleza ideal.)

· Platão (c. 366-360 a.C.) Phaedrus, tradução de A. Nehamas e P. Woodruff, Indianapolis, IN: Hackett Publishing Company, 1995. (Uma descrição da paixão erótica misturada com reverência e temor.)

· Price, A. (1989) Love and Friendship in Plato and Aristotle, Oxford: Clarendon Press. (Excelente tratamento dos textos, com achegas subtis sobre o tópico.)

· Proust, M. (1914-27) À la recherche du temps perdu, tradução de C.K. Scott Moncrieff e T. Kilmartin, Remembrance of Things Past, Nova Iorque: Random House, Vintage, 1981. (Grande romance filosófico que analisa a relação do amor com a carência, o ciúme e a criatividade artística.)

· Vlastos, G. (1973) "The Individual as Object of Love in Plato's Dialogues", em Platonic Studies, Princeton, NJ: Princeton University Press. (Importante análise e crítica das perspectivas antigas do amor.)

Tradução de Claudino Caridade

Publicado em Routledge Encyclopedia of Philosophy, org. Edward Craig (Londres: Routledge, 1998)

Cefa - Centro de Estudos em Filosofia Americana



disponível em: http://portal.filosofia.pro.br/o-que-e-amor.html


AS MITOLOGIAS AFRO E GREGA


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AS MITOLOGIAS AFRO E GREGA


A orientação objetiva da mente humana criou a necessidade do homem pesquisar para dar o desenvolvimento à inteligência, que é uma satisfação dessa necessidade.
Dentro da vocação de cada um, o homem busca o seu desenvolvimento inteligente para dar expansão naquilo que ele pensa, que deve fazer para o bem de uma certa coletividade.
Entretanto este nosso tema não é em todo um tratado sobre a mitologia ou as religiões, porém apenas cuidamos de estudar, pesquisar, dando à nossa interpretação, quer científica, quer religiosa ou filosófica, referente às lendas, cuja citação já apresentamos nos capítulos: Ponto de Fogo, Astronautas Pré-históricos. E aqui A Lenda da Mulher-Peixe.
Continuamente procuramos mostrar aos Irmãos umbandistas o conhecimento analógico através das lendas; tentamos também explicar o porque das lendas, pois, mesmo antes do aparecimento de qualquer escola racionalista, sempre o homem se preocupou em conhecer o mistério de sua origem, de certos fenômenos, e sobre tudo de seu fim, seu Destino.
Sobre as lendas, de onde vieram? Têm algum fundamento na verdade ou são apenas sonhos da imaginação? Pois dizemos que todas lendas têm seu fundamento de verdade.

Os filósofos têm aventado sobre o assunto em diversas teorias.

1a - Teoria Bíblica - De acordo com esta teoria, todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das Escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos e alterados; porém a verdade é que cada povo ou geração tem a sua lenda.

Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Áriom de Jonas, etc...
Sir Walter, em sua História do Mundo, diz: Jubal Tubal e Tubal Caim são Mercúrio, Vulcano e Apolo, inventores do Pastoreio, da Fundição e da Musica. O Dragão que guarda os pomos de ouro, era a serpente que enganou Eva. A torre de Nemrod foi a tentativa dos Gigantes contra o Céu. Há sem dúvida, muitas coincidências curiosas como estas, mas a teoria não pode ser exagerada até o ponto de explicar a maior parte das lendas, sem se cair no contra-senso.


a - Teoria Histórica - Por essa teoria, todas as personagens mencionadas na mitologia foram seres humanos reais e as lendas e tradições fabulosas à elas relativas são apenas acréscimos e embelezamento, surgido em épocas posteriores. Assim a história de Éolo, rei e deus dos ventos, teria surgido do fato de Éolo ser o governante de alguma ilha do Mar Tirreno, onde reinou com justiça e piedade e ensinou aos nativos o uso da navegação à vela e como predizer, pelos sinais atmosféricos, as mudanças do tempo e dos ventos.
Cadmo, que segundo a lenda, semeou a terra com dentes de dragão, dos quais nasceu uma safra de homens armados, foi na realidade um emigrante vindo da Fenícia, que levou à Grécia o conhecimento das letras do alfabeto, ensinando-o aos naturais daquele país.
Desses conhecimentos rudimentares nasceu a civilização que os poetas se mostraram sempre inclinados a apresentar como a decadência do estado primitivo do homem, a Idade do Ouro em que imperavam a inocência e a simplicidade.

3a - Teoria Alegórica - Segundo essa teoria, todos os mitos da antigüidade eram alegóricos e simbólicos, contendo alguma verdade moral, religiosa ou filosófica, ou algum fato histórico, sob a forma de alegoria, passaram a ser entendidos literalmente. Assim Saturno que devora os próprios filhos, é a mesma Divindade que os gregos chamavam de Cronus, (os cultos Afro têm um Orixá, chamado Tempo) que pode-se dizer, na verdade destroi tudo que ele próprio cria.
4a - Teoria Física - Para esta teoria, os elementos ar, fogo e água, originalmente objeto de adoração religiosa, sendo as principais Divindades personificadas nas forças da natureza. Foi fácil a transição da personificação dos elementos para a idéia de seres sobrenaturais, dirigindo e governando os diferentes objetos da natureza. Antigos povos, os gregos acreditavam que toda a natureza era povoada por seres invisíveis, e que todos os objetos, desde o Sol e o Mar até a menor fonte ou riacho, estavam entregues aos cuidados de alguma Divindade e atributos particulares.
Entretanto, todas as teorias acima mencionadas, são verdadeiras até certo ponto, no qual nos podemos igualá-las dentro dos princípios de nossa religião. Seria portanto, mais correto dizer-se que a Mitologia de uma geração ou nação vem de todas àquelas fontes combinadas e não de uma só em particular. Há muitos mitos originados pelo desejo do homem de explicar fenômenos naturais que ele não pode compreender e que não poucos surgirão de desejo semelhante de explicar a origem de nomes de lugares e pessoas.



IEMANJÁ (VÊNUS - AFRODITE)



Aqui apresentamos coletâneas das magníficas lendas do culto Afro e mitologia grega.
Demonstramos que Afrodite, Vênus, deusa das lendas gregas, é a mesma Iemanjá (Sereia) dos cultos Afros, na certeza de quem ler com atenção, julgará conosco essa exortativa comparação.
Iemanjá era conhecida pelos romanos como Vênus, enquanto que os gregos a conheciam como Afrodite.

Vejamos como nos é oferecido Vênus:
Vênus era muito cultuada na Grécia, onde lhe foram erigidos numerosos templos. Seus alimentos eram cisnes, pombos, pássaros e lebres, lhes eram consagrados e oferecidos em sacrifícios. Seus altares eram ornados com flores, especialmente rosas, e lhes eram oferecidos frutos perfeitos e sazonados, sendo-lhe especialmente consagradas a maçã e a romã. No antigo Império Romano, principalmente em Veneza, nos rituais dedicados à Afrodite, o seu povo lançava às águas um anel de ouro, rosas, etc...

Vejamos agora Iemanjá, como todos sabem é a divindade das águas verdes, salgadas, ela leva um leque e bracelete de metal prateado, ela dança interpretando o movimento das águas agitadas. É considerada por muitos a Mãe de todos os Orixás, pois vê crescer, ano a ano, o número de seus adeptos, no Brasil é considerada pelos Umbandistas, a Rainha do Mar, Protetora da família, cultuada aos sábados e fim de ano nas praias.
No entanto, dentro do sincretismo Católico-Umbandista, ela é N. S. da Glória, festejada à 15 de Agosto no Rio de Janeiro e N. S. da Conceição na Bahia.
Porém o sincretismo não passa de um fenômeno de fé, e não tem influência na filosofia dos Cultos Afro-brasileiros; no entanto o sincretismo de Oxalá com Jesus, este já explicamos dentro da Cabala, Jesus e Oxalá é a mesma divindade, isto é, a 2a pessoa da Trindade Divina do Culto do Omolocô.
Iemanjá tem seu fetiche, que é a concha marinha. Sua insígnia, um leque (abebê)
Os alimentos consagrados são pombo branco, milho, galo branco, ovelha branca, cabra branca, camarão azeite de dendê, leite de coco, como podemos ver, desde as mais antigas civilizações do mundo, Iemanjá já era cultuada nos mares onde tem o maior e melhor alimento da vida, que é o Sal.
As oferendas consagradas às Divindades, podem ser cruentas ou incruenta, segundo a necessidade de derramamento de sangue ou não; o seu nome é Efó(sacrifício) que se fazem às divindades.
Os antigos hebreus, também os novos, ainda praticam estes rituais secretamente dentro da cabala; dão nome de Nedaboh (vindo a palavra do verbo Nadah - agir espontaneamente).
Noé também deu oferendas quando saltou da barca, depois do dilúvio, oferecendo num altar ao Senhor, ao pé do Monte Ararat animais e aves puras em holocausto sobre este altar.
Gênesis 8, 20
No Novo Testamento, é bastante conhecida a oferta de ouro, mirra e incenso pelos Três Reis Magos ao Menino Jesus.
E agora perguntamos: Iemanjá - Vênus - Afrodite, devem ser consideradas como uma só divindade?
Para nós julgamos ser uma só, sob nomes diferente.



A LENDA GREGA DE VÊNUS



Sob o nome Romano de Vênus e o grego de Afrodite, esta deusa foi uma das divindades mais cultuadas na antigüidade.
Não nasceu do ventre de nenhuma mulher, deusa ou mortal; surgiu da espuma do mar, fecundada pelo sangue de Urano, o Céu, que foi sacrilicamente emasculado por seu filho Saturno.
Uma concha de madrepérola agasalhou essa espuma (e lembra que o Fetiche de Iemanjá é uma concha marinha de madrepérola) servindo-lhe de abrigo e foi conduzida pelo mar até próximo à ilha de Chipre, onde se abriu, fazendo surgir Vênus.
Zéfiro, um dos oito ventos, entregou Vênus às mãos das Musas, que se encarregaram de criá-la e educá-la.
Vênus foi esposa de Vulcano, o feio e desajeitado deus ferreiro que vivia trabalhando na forja com seus medonhos auxiliares, os Ciclopes (gigantes fabulosos com um só olho na testa); Vulcano foi enganado de mil formas por sua belíssima e sensual esposa.
A aventura amorosa que a deusa do amor teve com Marte, foi a mais ruidosa do Olimpo.
Nos encontros entre ambos, Marte deixava de guarda Alectrião, seu favorito, que era muito preguiçoso.
Certa vez, Febo, também considerado como Apolo, o Sol, e que também amava Vênus, seguiu os dois apaixonados até seu esconderijo secreto. Tendo Alectrião adormecido, Febo pode espia-los de perto e, vendo o que sucedia, foi chamar Vulcano.
O marido ultrajado, apanhando os amantes em flagrante, envolveu-os numa rede poderosa e invisível e chamou todos os deuses para que testemunhassem o adultério.
Desse amor com Marte, Vênus teve um filho, Cupido (identificado na mitologia Afro, como Orugã, Orixá do amor) ou Eros, o deus do amor.
Percebendo os males que Cupido poderia causar, Júpiter pediu à Vênus que se desfizesse dele, mas ela não lhe obedeceu. Como Cupido estivesse condenado a ser sempre criança, enquanto não tivesse outro irmão, Vênus teve outro filho de Marte, Anteros, ou antiamor, aquele que transforma o amor em ódio.
Além de Cupido, Vênus foi também mãe dos amores, dos jogos e dos risos.
De seu amor com Baco, nasceu a divindade chamada Hímen, ou Himeneu.
A maior paixão que sentiu foi por Adónis, um mortal que era mais belo do que qualquer dos deuses. Por ele, Vênus fugiu do Olimpo, separou-se de seus companheiros e desdenhou da companhia dos deuses. Enciumado, Marte transformou-se num javali, atacou Adónis e matou-o.
Vênus, depois de chorar longamente, transformou Adónis em anêmona, flor de grande beleza e vida efêmera.
Netuno foi seu último esposo (identificado na mitologia Afro, como Obá - Olorum, Rei dos mares). A primeira lenda nos conta que Nereu, deus marinho muito antigo, filho do Oceano e de Tétis, casou-se com sua irmã gêmea, Dóris, que lhe deu cinqüenta (50) belíssimas filhas que foram chamadas Nereidas.
Netuno, o deus das águas, apaixonou-se por uma delas, Anfitrite. Netuno tinha seu palácio no fundo do mar, tinha cavalos com crina de ouro que puxavam seu carro por sobre as ondas, e não ostentava um tridente. Anfitrite, temendo a severidade do deus e os mistérios existentes nos profundos abismos, fugiu amedrontada.
Refugiou-se nos rochedos próximos ao Monte Atlas, mas lá foi encontrada por dois golfinhos que a persuadiram a aceitar o amor de Netuno.
Anfitrite deixou-se convencer e os dois peixes a levaram para junto do deus marinho que, agradecido, pediu à Júpiter, seu irmão, que os imortalizasse. Netuno e Anfitrite formaram um casal muito feliz e de sua união nasceram não só inúmeras Ninfas marinhas, como também o mais famoso dos divinos seres da água, Tristão. A outra lenda que é também muito difundida, conta que dois golfinhos salvaram a vida de Vênus e de seu filho, Cupido, quando ambos eram perseguidos pelo gigante Tifon, durante a guerra que Júpiter desencadeou contra os monstruosos gigantes.



IEMANJÁ MORA EM ABÉOKUTÁ



No Brasil, como todos sabem, Iemanjá é uma divindade extremamente popular. Para suas oferendas no mar, seus adeptos levam contas transparentes como cristais e braceletes de metal prateado. É simbolizada por seixos marinhos e coquinhos; quando se manifesta ela traz um leque (abebê) na mão, e os Iaôs imitam o movimento das ondas descendo e levantando o corpo.
Ela é recebida com o grito (saudação) "Odaia" no Nagô e "Odó-Fiaba" no Omolocô, a mãe das águas. Iemanjá mora em Abéokutá, na Nigéria, no rio Ogun, e é considerada a divindade das águas do mar.
Segundo alguns historiadores é a mãe de todos os Orixás. Nada pode existir sem água.
Ela tem a mesma função que Iôiê Moiô e Olokum na linha Ifé mas ela não necessita de um Orixá macho complementário.
Ela estaria na posição de Nanã Buruku no Adelê.
Assim diz a lenda que nos tempos antigos, quando faltava água, era porque Iemanjá estava deitada e dormia sobre seu lado esquerdo. Quando voltava da esquerda para a direita, as fontes jorravam água.
Ela simboliza a maternidade; as estatuas a representam como uma mulher grávida, as mãos sobre o ventre, com seios volumosos aos quais fazem alusão nos cânticos "Nossa Mãe de mamas chorosas" aos seus seios dos quais em algumas lendas, dizem ainda jorrar água.


Bibliografia:
TECNOLOGIA OCULTISTA DA UMBANDA DO BRASIL.
Tancredo da Silva Pint